23 de julho de 2015
Bumerangue: é só jogar o objeto que ele volta direto para as suas mãos, certo? Foi o que Fábio Silva dos Santos (32) pensou, há exatos 12 anos, quando participou de uma exposição sobre o tema, em Campinas, SP. Mas ele, assim como a maioria das pessoas, estava enganado. “Me apaixonei pelo esporte e resolvi comprar um bumerangue. Foram seis meses de tentativas e erros, para fazer ele voltar”, lembra.O bioquímico, que começou a jogar bumerangue apenas por prazer e hobbie, quando descobriu que estava doente, descobriu também os desejos de competir e conquistar. “A palavra ‘câncer’ tende a te levar para baixo, mas eu sempre a trouxe como uma força positiva na minha vida. Eu usei a leucemia como combustível para alcançar meus sonhos”, diz Fabio. Com 25 anos, ele notou que a caminhada até o trabalho se tornava cada dia mais exaustiva e sua gengiva sangrava durante a noite. “Até pensei que era por causa do aparelho dentário, mas descobri que eram sinais de alerta”, relata.Após o diagnóstico médico de Leucemia Mieloide e a compatibilidade para o transplante de medula óssea, o jovem foi encaminhado, em 2008, ao Hospital Amaral Carvalho (HAC) – referência nacional em tratamento oncológico, para o procedimento. “Foi um baque a princípio, acho que ninguém quer acordar um dia e saber que está com câncer. Mas o atendimento foi o melhor que eu poderia ter. O hospital fez muito bem a parte dele e eu tenho certeza que fiz muito bem a minha”, desabafa.A motivação para ele nesse período de tratamento, além do apoio da família, veio das metas que a esposa, na época namorada, determinava. “A Vivian me desafiava a melhorar. Um mês após descobrirmos a doença, ela apareceu com uma cesta de flores e a aliança de noivado, e prometeu que quando eu ficasse bom, iríamos nos casar: eu precisava melhorar!”, conta Fabio.Empenhado no tratamento, o rapaz precisou se afastar da sua antiga rotina, e com isso, o bumerangue também foi deixado de lado. “Eu continuava com vontade de jogar, mas pensava que não conseguiria mais. Além de ficar muito fraco e debilitado, perdi a visão de um olho e a noção de profundidade. Só que não fiquei deprimido, pelo contrário, escolhi ser o que eu era, na condição em que estava, assim consegui superar. Se a Vivian estava apostando em mim, por que eu não iria apostar?”. Cada vitória no tratamento significava mais um passo para o casamento. Entre conquistasNo período de reabilitação, Fabio não só conquistou o casamento, após um ano de transplante, como retornou ao esporte. “Eu participava da Terapia Ocupacional no HAC e um dia dei a ideia de jogarmos bumerangue. Uma das terapeutas falou que o pai era marceneiro, então eu desenhei o molde e ele cortou as madeiras para mim. Nos dias seguintes, o doutor Mair de Souza, meu médico, me liberou para ir ao parque municipal e fazer dez arremessos”, afirma.O exercício diário resgatou o encanto que tinha pelo bumerangue, mas dessa vez, de forma mais intensa. “Pesquisei bastante na internet, aprendi técnicas e modalidades, conheci jogadores e o melhor, fui convocado a participar de um campeonato pela primeira vez”, diz. O Circuito Nacional de Bumerangue, em 2010, foi o momento de integração. De lá para cá, o bumeranguista participou de três circuitos brasileiros, sendo campeão pela Federação Brasileira de Bumerangues em 2013; e dois campeonatos mundiais, onde representou o Brasil no próprio país, em 2012, e na Austrália, em 2014, quando foi vice-campeão mundial em bumerangue de velocidade. O foco agora está direcionado ao Campeonato Brasileiro de Bumerangue, o mais importante no País, a ser realizado em setembro de 2015, e o Campeonato Mundial de Bumerangue, na Alemanha, em 2016. “Um parâmetro: o Fabinho até ali era um, agora o Fabinho, depois da leucemia, é outro, mais determinado. Esse é o ponto positivo do câncer: você olhar pra trás e perceber que é só você querer que consegue”, conclui.
Departamento de Comunicação e Marketing
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Fábio Silva dos Santos[/caption]