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20 de abril de 2022

Ficar sem voz. Voltar a falar. Essas duas emoções, opostas para qualquer pessoa, foram sentidas pelo paciente Donizete Marinho (62), em Jaú, no período de um ano. Diagnosticado com um câncer da laringe, foi submetido à cirurgia de laringectomia total (retirada da laringe) no fim de março do ano passado, em plena pandemia, no Hospital Amaral Carvalho (HAC). O procedimento, imprescindível para tentar acabar com a doença, acaba provocando a perda da fala.

Foi um ano difícil, de reabilitação, enfrentado sempre com o apoio incondicional da família. Nesse tempo, a filha Jaqueline atuava como intérprete do pai. “Imagina você tentando falar e não tendo voz. Foi um ano assim. Você se sente incapaz. As pessoas não te entendem”, conta o paciente.

Tudo isso mudou há alguns dias. Em um dos retornos, Donizete teve uma grata surpresa: ganhou uma laringe eletrônica, aparelho que possibilita ao paciente, por meio da emissão de uma onda sonora contínua, voltar a falar. “Isso é um ovo de Páscoa, mais gostoso que chocolate!” Agora, ele passa por um período de adaptação ao aparelho, reaprendendo a falar de forma devagar para ser entendido.

A laringe eletrônica foi fornecida ao Donizete via Sistema Único de Saúde (SUS) após uma conquista recente do Hospital Amaral Carvalho. Apesar de o aparelho ter sido incorporado no SUS em 2018, somente no fim de 2020 foi possível ingressar com documentação para que os pacientes do HAC fossem contemplados. A partir de agora, o hospital passa a receber lotes mensais de aparelhos.

“A ideia inicial é possibilitar que pacientes submetidos à laringectomia total recebam a laringe eletrônica e passem pelo processo de adaptação ao aparelho. Depois de atendida essa demanda, a meta é fornecer o equipamento imediatamente após a cirurgia, para que o paciente não fique sem poder se comunicar”, disse a fonoaudióloga Renata Furia Sanchez.

Antes da pandemia, semanalmente os pacientes submetidos à retirada da laringe participavam de grupos de reabilitação com equipe multidisciplinar com psicólogas e fonoaudiólogas. Agora, Renata afirma que a ideia é retomar esse serviço, com um menor número de pacientes por sessão. “É muito importante esse suporte da equipe para a reabilitação do paciente.”


Diagnóstico


Donizete descobriu o câncer na laringe após apresentar rouquidão e evoluir para falta de ar. Nesse período, entre idas e vindas em vários médicos, passaram-se dois anos até o paciente ser diagnosticado corretamente. “Quando cheguei no Amaral, fizeram a traqueostomia e, um tempinho depois, a cirurgia. Por isso, recomendo que todos façam um check-up anual. A descoberta logo no início pode evitar tratamentos mais invasivos.”

O câncer de cabeça e pescoço acomete boca, faringe, laringe, seios da face e tireoide. Os sintomas são, muitas vezes, negligenciados, e incluem modificação na voz, nódulos no pescoço, dificuldade ou dor para engolir, feridas na pele na região da face e pescoço ou lesões na boca que não cicatrizam após três semanas.


Anexos
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