4 de abril de 2012
Atenção às mulheres antes e depois do transplante de medula óssea. Orientação, acompanhamento, prevenção e atendimento especial. Esses são alguns dos serviços prestados pelo Ambulatório de Qualidade de Vida Pós-transplante, unidade de apoio ao setor de Transplante de Medula Óssea (TMO) do Hospital Amaral Carvalho (HAC). Há alguns anos, de acordo com o hematologista Mair Pedro de Souza - um dos responsáveis pelo TMO, notou-se a necessidade de resolver queixas específicas das pacientes transplantadas. "Constatamos que essas mulheres evitavam comentar seus problemas ginecológicos com a nossa equipe médica, que sempre foi predominantemente composta por homens, e então, recorríamos à oncoginecologista da instituição", lembra. Lenira Queiroz Mauad, a citada oncoginecologista, atua no HAC, na área de sua especialidade, há 23 anos. A profissional já atendeu mulheres de diferentes regiões do país e é responsável pelo Programa de Prevenção do Câncer Ginecológico da instituição. Em agosto de 2005, a pedido dos coordenadores do serviço de transplante de medula óssea, a médica desenvolveu o ambulatório de seguimento de mulheres submetidas ao procedimento, estabeleceu rotinas e protocolos.Hoje, mais de 400 pacientes são acompanhadas e recebem toda atenção e cuidados necessários. Além da avaliação inicial, que pode evitar graves intercorrências como infecções e hemorragias, o Ambulatório faz o diagnóstico de doenças ginecológicas relacionadas ou não aos transplantes, reposição hormonal e controles das possíveis complicações de longo prazo e até acompanhamento do crescimento e desenvolvimento das adolescentes. "Há possibilidade de diversas alterações ginecológicas após o transplante, desde a perda da função reprodutora em virtude da falência dos ovários, que leva à menopausa precoce, até o comprometimento da sexualidade, uma vez que podem ocorrer lesões genitais causadas por rejeição da medula contra o receptor. Se essas alterações não forem detectadas precocemente e controladas, deixam sequelas limitantes", comenta Lenira.A médica relata que a preocupação deste serviço vai além da sobrevida das pacientes. "Trata-se de promover a qualidade de vida dessas mulheres." PioneirismoO Ambulatório trouxe grande avanço para o serviço de TMO que atualmente é um modelo para outras unidades. A iniciativa é inédita no Brasil e rara em outros países, segundo a oncoginecologista, e tem norteado o seguimento de mulheres transplantadas. "É um grande aprendizado que nos leva a contribuir também com pacientes de outros centros", diz. Mair adianta que há também uma preocupação em estabelecer relacionamentos com os ginecologistas e profissionais de outros centros de transplante e, com isso, realizar estudos cooperativos. PrêmioEm agosto do ano passado, durante o Congresso Brasileiro de Transplante de Medula Óssea, no Rio de Janeiro, Lenira recebeu pessoalmente o prêmio "Fani Job", destinado a trabalhos de categoria multidisciplinar e que leva o nome da hematologista que foi professora da Universidade do Rio Grande do Sul e grande incentivadora da abordagem multidisciplinar dos pacientes oncológicos. Lenira apresentou um trabalho desenvolvido em parceria com a equipe TMO do Hospital Amaral Carvalho, com o tema "Complicações Ginecológicas da Doença de Enxerto Contra o Hospedeiro (DECH)". Com a colaboração dos médicos Vergílio Antonio Rensi Colturato e Mair Pedro de Souza, a médica avaliou nos atendimentos no Ambulatório, as sequelas da DECH no sistema reprodutor e órgãos genitais femininos, e suas implicações na sexualidade das mulheres transplantadas.
Ariane Urbanetto