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24 de junho de 2016
Com apenas dois anos, Aron, um bebê robusto, com bochechas rosadas e olhos azuis, já trava uma luta pela vida de provocar calafrios em qualquer adulto. Há 70 dias, ele chegou ao Amaral Carvalho, o hospital de câncer do Brasil, localizado em Jaú, no interior de São Paulo. Em sua primeira batalha, Aron se saiu bem, mas perdeu seus cachinhos dourados para o tratamento da quimioterapia.O garotinho de Analândia, interior de São Paulo, enfrenta leucemia, tipo de câncer no sangue, mais frequente na infância. A descoberta da doença é recente, mas antes mesmo de Aron nascer, em dezembro de 2013, a família já vivia um grande drama: a mãe dele, a professora Paula Brille, 32, foi diagnosticada com esclerose múltipla (EM), doença neurológica, degenerativa, incurável, que provoca lesões cerebrais. Nos casos mais graves, o paciente perde a capacidade de andar e falar.“Interrompi o uso dos medicamentos para engravidar e tive uma crise violenta. Perdi a força nas pernas e nos braços e acabei numa cadeira de rodas. Tudo o que eu tentava segurar caía das minhas mãos”, lembrou Paula.A notícia Na gravidez, ela substituiu o tratamento convencional à ingestão de vitamina D, recomendada por um especialista da área, e conseguiu ótimos resultados. “Não tive complicações durante a gestação e saí da maternidade carregando meu filho nos braços, mas sabia que teria um longo caminho de luta pela frente”.Mesmo antevendo os árduos tempos após o parto, a professora foi surpreendida ao saber que enfrentaria mais um terrível problema: a doença de Aron. Paula chorou muito ao explicar o que sentiu ao receber a notícia. “Ele começou com febre, uma febre que não cessava. Depois de alguns exames, o médico descobriu uma anemia importante e resolveu investigar melhor. E assim descobriu o câncer. Foi como se um buraco se abrisse debaixo dos pés. E logo veio a sensação de impotência. Eu olhava para o meu bebê e não acreditava que aquilo estava acontecendo. Sem poder fazer nada, só pedia a Deus que fosse uma mentira, um sonho, mesmo que fosse um pesadelo, só não queria acreditar na realidade”, contou a professora, em prantos. Sensível à agonia da mãe, Aron, que ainda não fala, só fez um “não” com a cabeça e resmungou. E ela reagiu para acalmar a criança: “Está tudo bem, bebê”. Peito

No mesmo instante, Paula levantou-se do sofá, pegou o filho no colo e o amamentou no peito. “Pouco antes do Aron ficar doente, iniciamos o processo de desmame, porque já estava mais do que na hora, mas, de repente, todo tormento aconteceu e resolvi prosseguir com a amamentação”, justificou.Aquele momento mágico foi compartilhado por todos que entravam no quarto 1 da pediatria, onde Aron está internado. “Você ainda o amamenta? Que bênção!”, exclamou a nutricionista que passava para informar o cardápio do almoço. “Ele ainda mama no peito? Que lindo”, repetiu a doutora Malu, que chegou para iniciar uma sessão de fisioterapia com o pequeno paciente.Embora não tenha gostado nada de ter sido interrompido pela fisioterapeuta, o valente Aron ganhou a confiança da “tia Malu”, e os exercícios começaram entre murmúrios. Pequeno e valenteO câncer, quando acomete uma criança, é sempre mais impactante. Os pequenos não entendem por que precisam passar por procedimentos, às vezes dolorosos, e sofrem mais por isso, assim como todos ao seu redor.Desde quando foi hospitalizado pela primeira vez – já está na terceira internação - Aron passou por um conjunto de procedimentos: recebeu sangue, plaquetas, passou por sessões de quimioterapias e realizou exames mais invasivos. “Ele chora de dor quando se senta na cama, devido a um exame a que foi submetido nesta manhã, no centro cirúrgico. Meu coração chega a doer”, lastimou a professora Paula Brille.Aron recebeu alta médica três vezes desde a primeira internação, mas, no último 29 de maio, teve que voltar. “Ele passou tão mal devido à última químio, que acabou desidratado”, contou Paula.

Sério e carinhosoTalvez por todas as dores, as sensações de mal-estar e a possível insegurança com relação à saúde da mãe, assimilada por Aron ainda no ventre materno, o menino demonstra ser uma criança sisuda, de poucas brincadeiras. Quase nunca sorri. “Em casa, com o pai, ele é um pouco mais solto, mas, no geral, é sempre assim, sério”, confirma a mãe. Segundo Paula declarou à reportagem, os profissionais do Hospital Amaral Carvalho tentam de tudo para Aron se sentir mais seguro. “O acolhimento neste hospital é de primeiro mundo, humanizado, e o Aron, que não é nada sociável, chega a se arriscar no colo das enfermeiras. Ele também é bastante carinhoso. Basta a Bel, do plantão noturno, chegar, que ele abre os bracinhos para ir no colo dela. E para todas as outras enfermeiras que saem do quarto, ele manda beijos”, contou a mãe orgulhosa.No dia desta entrevista, Aron estava prestes a receber outra alta médica. Tanto ele quanto a mãe pareciam estar exaustos. “O Manuel (pai da criança) espera ansioso nossa chegada em Analândia. Meu marido sofre muito. É muito apegado ao Aron e telefona para cá a todo momento. Ele também se sente muito inseguro”, confessou. Aron tem grandes possibilidades de cura. “Os médicos dizem que ele tem 80% de chances, mas eu confio nos 100% de Deus. Acredito que Aron já esteja curado e, quando tudo isso terminar, vou voltar a cuidar de mim, para que possa continuar carregando meu filho nos braços, por um longo tempo”, declarou a mãe esperançosa.

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