22 de julho de 2013
Em 1995, o Hospital Amaral Carvalho (HAC) — primeira entidade hospitalar do interior do Estado de São Paulo especializada em câncer — começava a estruturar um serviço de Transplante de Medula Óssea (TMO) após estudos e esforços das equipes médica e administrativa. “Naquela época, as pessoas achavam que era coisa muito distante um hospital do interior de São Paulo se propor a realizar transplantes”, lembra o hematologista da instituição, Marcos Augusto Mauad. Com os primeiros transplantes realizados e bons resultados, em 1996 o Hospital começava a receber encaminhamentos de diferentes cidades do País. Neste cenário, em 28 de julho de 1998, uma garotinha de 2 anos e 9 meses, moradora de Jahu, deu entrada no HAC com diagnóstico de leucemia e foi tratada com quimioterapia. Contudo, nos anos seguintes apresentou retorno da doença e o transplante de células tronco hematopoiéticas passou a ser o único tratamento curativo. A menina chamada Vanessa Canal não tinha doador compatível. Enquanto isso, o número dos transplantes de medula óssea realizados no HAC ia crescendo: no início, eram principalmente autólogos (quando a médula ou células tronco são retiradas do próprio paciente); em seguida, os alogênicos (quando o doador da medula é compatível com o receptor), que são de maior complexidade, passaram a ser os mais realizados na instituição. O hematologista do HAC, Vergílio Antonio Rensi Colturato relata que o transplante de medula óssea é um procedimento complexo e que há vários fatores envolvidos para encontrar um doador compatível. “Nesses casos, há 25% de chances de se encontrar o doador da medula na família do paciente e 75% em outras fontes, como os bancos de doadores — no Brasil, temos o Redome (Registro de Doadores de Medula Óssea), instalado no Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva e que conta com 2 milhões e 900 mil doadores cadastrados, o que o caracteriza como o terceiro maior banco de dados do gênero do mundo”, explica.Cordão umbilicalEm 2004, a equipe de TMO do Hospital Amaral Carvalho começava a estudar a possibilidade da realização de transplante de célula tronco hematopoiética de cordão umbilical, justamente quando Vanessa aguardava por um doador compatível.Se estatísticamente nos casos de transplante alogênico são necessários 100 mil doadores, em média, para encontrar um compatível, para transplantes de cordão umbilical são necessários 20 mil para um. No entanto, de acordo com Mauad, esse tipo de transplante é ainda mais complexo e sua possibilidade de uso varia. Naquele ano, o banco público de cordão umbilical do Inca tinha cerca de 200 unidades disponíveis para uso. Na história do serviço de TMO do Hospital Amaral Carvalho e a paciente Vanessa Canal, o cordão número 189 era compatível com a menina. “Tivemos uma oportunidade de tratamento diferente para a Vanessa e realizamos então, no dia 8 de outubro o primeiro transplante de células tronco de cordão umbilical do País, oriundo de um doador brasileiro”, conta Mauad.Tudo correu dentro do planejado: Vanessa comemorou seu aniversário de 9 anos na internação prévia ao transplante, passou pelo procedimento e se recuperou rapidamente.HomenagemHoje Vanessa tem 17 anos e se dedica aos estudos para prestar vestibular para faculdade de odontologia, que é seu sonho. No mês passado ela foi convidada para participar de um evento que celebrou os 30 anos de existência do Centro de Transplante de Medula Óssea (Cemo) do Inca.Na ocasião, em meio a especialistas de diferentes entidades que participaram do evento para discussões científicas de captação de doadores e hemoterapia, a primeira paciente do Brasil a receber, no Hospital Amaral Carvalho, um transplante de células tronco hematopoiéticas tendo como fonte cordão umbilical, foi homenageada por ser um exemplo de superação e levar esperança a pacientes oncológicos.Mauad, que acompanhou de perto o tratamento de Vanessa, afirma que além de representar a mudança do patamar de complexidade dos transplantes de medula óssea realizados no Hospital, a história da menina ocorreu pararela ao desenvolvimento da Oncologia Pediátrica, da Hemoterapia e do serviço de TMO do HAC. “É um marco para o Hospital e para o País, que se vê capaz de produzir benefícios para a saúde por meio do banco público de cordões umbilicais”, comenta. Dia Nacional da Doação de Cordão UmbilicalMotivos para comemorar não faltam. Além da homenagem do Inca, há um projeto de lei (PLS 299/2010) do senador do Ceará, Inácio Arruda, que institui uma data nacional para incentivar a doação de cordão umbilical. A data indicada é 8 de outubro, que é o dia da realização do transplante de medula óssea de cordão umbilical de Vanessa, no HAC. O projeto que recentemente foi aprovado pela Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), segue para a Câmara dos Deputados para ser examinado. SAIBA MAISFundação Hospital Amaral CarvalhoÉ um dos maiores e mais modernos centros de oncologia do Brasil. Localizada em Jahu - SP, tem aproximadamente 2 mil colaboradores e constitui-se na mais antiga entidade filantrópica privada brasileira de assistência à saúde: são quase 100 anos de cuidados e promoção do bem estar a pacientes carentes com câncer e suas famílias, por meio de atendimento humanizado e serviços de saúde de alta qualidade.TMOO serviço de Transplante de Medula Óssea do Hospital Amaral Carvalho, diferente da maioria dos centros de transplante do Brasil, não é vinculado a nenhuma instituição universitária. A Fundação Hospital Amaral Carvalho é a gestora do programa. Referência nacional, em 2013, pelo terceiro ano consecutivo, o Serviço destacou-se entre as equipes que realizam o procedimento no Brasil, segundo relatório da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO): o balanço anual aponta que em 2012, dos 1.753 transplantes de medula óssea realizados por equipes brasileiras, 206 foram feitos pelo serviço do HAC. O saldo mais expressivo é o de transplantes alogênicos: 136 foram realizados na instituição, o que representa 21,6% do total desse tipo de procedimento. Em 17 anos de atuação, a unidade realizou mais cerca de 1.900 transplantes.
Ariane Urbanetto
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Dr. Vergílio Antonio Rensi Colturato, Vanessa Canal e Dr. Marcos Augusto Mauad[/caption]