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30 de maio de 2016
O pedreiro capixaba Jorge Alves, 47, está convicto de que alcançou o milagre da cura, resultado do tratamento que vem recebendo há dois anos no Hospital Amaral Carvalho (HAC). E ele tem motivos concretos para pensar assim: afinal, três anos atrás, ele recebeu uma sentença de morte por ser portador de um tipo de câncer pertencente a um grupo de doenças conhecido pelo sobrenome do grande médico inglês do século XIX, Dr. Thomas Hodgkin. O Linfoma de Hodgkin ou Doença de Hodgkin é um tipo de câncer do sistema linfático (sistema que faz a conexão entre os tecidos e o sistema sanguíneo) e abrange 10% dos linfomas. Os outros 90% são chamados de Linfomas não-Hodgkin. E o caso de Jorge Alves era deste segundo grupo, tão mortal quanto o primeiro.Há dois anos sem quimioterapia, Jorge não apresenta mais nenhum vestígio da doença. Neste mês, Jorge e sua esposa, Edna, 32, estiveram hospedados na Casa de Apoio Ignês de Carvalho Montenegro, que abriga pacientes e acompanhantes oriundos de todos os estados brasileiros para tratamento no HAC pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Essa foi a quarta vez em seis meses que eles viajaram do interior do Espírito Santo a Jaú para investigar se houve evolução do câncer. “Na primeira vez que vim a Jaú, além de Edna, estava acompanhado de um irmão, que seria meu doador de medula óssea. Os médicos do Espírito Santo, onde iniciei meu tratamento, estavam certos que eu precisaria de um transplante, mas acreditavam também que eu estava desenganado: me deram apenas sete meses de vida”, lembra.Não foi o que aconteceu com esse capixaba de fé. Nos últimos retornos a Jaú, os exames que realizou no HAC revelaram que ele está livre da doença. “Quando descobri o câncer, minha esposa estava grávida do meu caçula, o Mateus Gabriel. Já temos uma menina de 9 anos, a Maria Heloísa. A vinda do segundo filho não foi planejada. Foi uma surpresa para nós e o que eu mais queria era vê-lo nascer. Pedi a Deus que me deixasse viver até isso acontecer. Ele me deu muito mais. Hoje já ouço meu filho dizer papai. Se tivesse que morrer agora morreria feliz. Estou em paz”, confessa. Jorge trabalhava como pedreiro no Espírito Santo, na construção de casas populares. Fazia sete casas em três dias. Hoje está afastado do emprego e recebe auxílio-doença. Quem ajuda a sustentar a família é Edna, que é auxiliar de serviços gerais em um laboratório de análises clínicas. Preocupada por estar faltando do trabalho há 15 dias para acompanhar o marido, Edna crê na compaixão da patroa. “Ela também passou por isso. O marido teve câncer e faleceu. Espero que ela entenda o que estamos passando e não desabone os dias que fiquei em Jaú. Eu precisava estar perto dele”, explica.

Edna e Jorge estão juntos há 15 anos. Oficializaram o casamento há três, quando os médicos deram a ele a sentença de morte. Segundo Jorge, eles sempre apoiaram um ao outro em todos os momentos difíceis da vida e ele não se cansa de dizer a ela o quanto é apaixonado. “Não sei o que seria de mim se não fosse essa mulher. Eu a amo do fundo do meu coração. Há 15 anos ela apareceu nos meus sonhos. Para mim, Edna não existia. Um dia, vi aquela menina, na época com 17 anos, na minha frente e logo me dei conta que era a mulher da minha vida, dos meus sonhos. Ela está sempre comigo nas horas que mais preciso e não faltaria dessa vez. A presença dela ao meu lado foi fundamental para meu tratamento”, afirma.E não é só Jorge que sente tamanha gratidão. O reconhecimento do casal com a equipe do Hospital Amaral Carvalho não tem dimensão. Depois de terem passado uma péssima experiência com relação ao sistema de saúde do Espírito Santo, Jorge e Edna encontraram em Jaú, cidade sobre a qual nunca ouviram falar antes, um hospital com foco na humanização. “Desde o primeiro dia que chegamos aqui fomos recebidos de uma maneira muito especial. Uma das funcionárias que nos recebeu explicou tudo o que tínhamos que fazer e parecia que as atenções eram todas para nós”, diz Edna. “No segundo dia, ela nos encontrou novamente, abriu um sorriso e me chamou pelo nome. Naquele momento eu percebi que no Amaral Carvalho tudo é diferente: os médicos se sentam para conversar conosco, olham nos nossos olhos e falam da doença com todo o cuidado para que não fiquemos traumatizados, com medo; os enfermeiros, os atendentes de balcão, todos, sem exceção, nos tratam com dignidade”, completa Jorge. Na casa de apoio, o casal teve tudo o que precisava, sem desembolsar um real. Tanto a hospedagem quanto as refeições diárias são custeadas pela Fundação Doutor Amaral Carvalho. “É uma organização impressionante na casa. Sem falar nas colaboradoras de lá. Foram um anjo para nós. Nos tornamos amigos. Para sempre”, garante o paciente.
Juliana Parra

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